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29 setembro 2009

O Sibilo da Serpente Cap.10

Aquela noite estava particularmente escura, ela havia ouvido um barulho estranho... Tivera medo, ela sabia que naqueles tempos não era bom pagar para ver, resolveu sair daquela rua e se esconder em uma cabana que parecia estar abandonada. Mas uma cabana abandonada não era um bom sinal... Eles poderiam encontrá-la facilmente, ela tinha medo. Sim, medo era a palavra que definia Fahrah naquele instante. Há muito tempo a Grã-Bretanha não era segura.

Ela ouvira um farfalhar de capa atrás de si e aquilo não era um bom sinal. Aquela figura negra, de pele muito pálida, estava parada em sua frente. Ele apenas a olhava, e aquilo que era pior, ela não sabia o que ele queria dela. Ou melhor, ela sabia, fazia anos que ele havia deixado aquilo claro, claro como as lágrimas que agora escorriam pelo seu rosto.

- Fahrah, querida – aquele olhar a imobilizava, simplesmente a enfeitiçava – Enfim sós – ele forçou um sorriso, um tanto sedutor, que por um instante a fez esquecer a sensação de perigo. Mas esse instante passou quando ela reparou em seus caninos afiados...

- Eu, eu não quero nada com você, deixe-me ir! – o desespero havia tomado conta dela e ela gritava, mas não havia sinal algum de que alguém a estava escutando.

- Fahrah, meu anjo que caiu do céu... – ele a rondava, como uma cobra analisando sua presa – Você sabe que eu jamais lhe faria mal algum... – ele agora a segurava pela cintura – Somente quero atender a um capricho meu, ou seja, você é meu capricho.

- Eu quero ir, deixe me ir... – sua voz agora se reduziu a uma súplica quase inaudível – Minha vida, minha família...

- Você poderá tê-los, Fahrah, deixe-me lhe apresentar a vida eterna... – a voz dele soava como um entorpecente, ela estava quase sem forças – Pense, poderá tê-los para sempre, nem você nem eles jamais conhecerão a morte. – ele já havia afastado os longos cabelos pretos do pescoço dela – Você só terá que pagar um pequeno preço...

- Ser sua... – ela o olhava dentro dos olhos, não era a primeira vez que ele lhe falava aquilo, mas das outras vezes a mãe dela não estava à beira da morte, como estava agora – Você pode curar minha mãe?

- Eu não conheço a morte, e nem doença alguma, nosso povo é indestrutível, junte-se a mim, Fahrah, seja minha rainha.

Realmente a proposta era tentadora, mas a única coisa que ela queria no momento era ver sua mãe bem, a única pessoa que havia lhe respeitado, que havia lhe dado crédito, ela a defendera da fogueira...

- Minha querida, você não será queimada em fogueira alguma, você não é uma bruxa... Mas pode tornar-se uma – ela o olhava com espanto, seria possível que ele fosse capaz de ler a sua mente?

- Sim, eu posso, e se juntar-se a mim, poderá ler mentes também. Vivo em um outro mundo, diferente deste aqui, e você, Fahrah, você foi escolhida para ser minha, estamos predestinados a ser um do outro.

Ela simplesmente o encarava, procurando algo para lhe dizer. Ela podia ver, no reflexo dos olhos dele, o pequeno vilarejo pegando fogo, as cabanas de palha se desmanchando, pessoas correndo, ela podia ouvir seus gritos. Crianças abandonadas, clamando em nome de seus pais, ela podia sentir que a terra chorava e que de alguma forma ela poderia se defender, e à sua família também.

- O que eu ganho com isso? – ela esfriara seu olhar, de uma forma nunca antes vista por ninguém, nem por ela mesma.

- Você já ganhou - ele percebeu que ela o indagava com o olhar – já ganhou a frieza, o poder já te conquistou, a imortalidade também, só basta você se sujeitar a uma coisa, um gesto.

Ela prendeu seus cabelos com uma fita negra que tinha amarrada em seu pulso, colocou-os de lado e com um sorriso frio inclinou seu pescoço, deixando suas veias delicadas à mostra.

- Ótima escolha, meu amor, ótima - ele a puxou para si, deixando suas respirações coladas, agora seus olhos se confrontavam, como se suas vidas dependessem daquilo.

E ele vagarosamente a puxara para um beijo, ela estranhou, nunca havia beijado antes, mas decidiu se entregar, ela estava flutuando, seus pés haviam fugido do chão, suas pernas estavam tão bambas que, se não fosse por aqueles braços fortes a segurando, ela já teria caído ali mesmo. E em um ato inesperado para ela, ele interrompera o beijo, ela não se atreveu a olhar, somente sentiu uma língua fria passando em cima de seu pescoço e a escuridão apossou-se dela...

Ela havia acordado, estava em lugar que nunca vira antes, um lugar escuro e sombrio e, por mais estranho que fosse, lhe causava uma sensação de conforto. Ela estava deitada, conseguiu se erguer um pouco, estava fraca, mas sentou-se na cama e apreciou o cômodo. Era muito bem decorado, mas mesmo assim não deixava de ser assustador.

Ela reparou na lareira acesa na sua frente, ela entendia o que as chamas falavam, ela como se elas dançassem, em um número único que jamais se repetiria. Foi aí que ela parou para pensar e lembrou-se do que havia acontecido, ela passou a mão em seu pescoço, e com um pouco de receio pode notar dois pequenos ferimentos, dispostos um ao lado do outro.

Era a mordida, pensou ela. Ela resolveu se levantar e encarar aquela situação, não poderia ficar a vida toda deitada ali... Mas que vida? Agora ela estava morta e, por mais estranho que fosse, ainda respirava. Ela se ergueu, viu que estava deitada sobre um lençol de seda preto. Logo ela, que sempre odiara preto, agora havia passado a ter alguma afinidade com a cor, reparou que havia uma muda de roupas aos pés de sua cama, todas pretas, mas nem por isso deixavam de ser belas.

Ela reparou que havia três portas no seu quarto, certamente uma delas seria a saída, mas e as outras duas? Só havia um jeito de descobrir... Ela caminhou até a porta mais próxima e, quando abriu, se deparou com uma vasta biblioteca. Ela sorriu. Desde criança tinha fascinação por livros, embora não soubesse ler. Ela sempre ouviu que ler era muito bom e que só os nobres o faziam, então ela sempre pediu isso para si, que um dia pudesse ser nobre o suficiente para poder ler um livro. E agora tinha todos aqueles ali, só para ela.

Ela estava tão abismada que nem percebeu uma movimentação atrás de si, somente se deu conta disso quando a pessoa que estava atrás dela a segurou pela cintura e lhe falou ao ouvido:

- Gostou? – sua voz era muito sensual e sugestiva também – São todos seus...

- Meus? Só meus? – ela não pode esconder o prazer que tomava conta de si, parecia uma criança que acabara de ganhar um brinquedo.

- Sim, minha querida, só seus. Agora vá tomar um banho, temos um dia longo pela frente...

- Temos? Pensei que eu poderia ficar aqui e talvez visitar minha família. – ela parecia estar desapontada. – Queria vê-los, não gostaria que tivessem medo de mim.

- Fahrah, querida, isso é assunto para mais tarde. Agora você tem que se aprontar, quero você linda, separei umas vestes para você, espero que goste. – ele já estava se retirando – Ah sim! A outra porta é um banheiro, só seu também. – tinha um ar de deboche.

- Muito obrigada por fazer tudo isso por mim... a troco só da minha presença.

- A sua presença para mim já é muita coisa, meu anjo, acredite.

- Mais eu nem sei seu nome...

- Vlad, mas pode me chamar de Drácula. E você agora será minha condessa. Trato é trato, sua família pelo seu amor...

- Estarei pronta. - Foram as únicas palavras que ela pode dizer. Agora ela pensava no que havia feito, havia entregado sua vida, se subjugado a viver nas sombras, para sempre...

Mas ela tinha um bom motivo para isso, ver sua mãe boa era o que ela mais queria em sua vida. Decidiu-se. “Afinal, o que está feito não pode ser revertido, pelo menos não agora”, e com esse pensamento pegou suas vestes novas e se dirigiu para o banho...

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